A Nossa Perspetiva
Expandido e complexo, o Design apresenta desafios críticos na sua definição, delimitação e mapeamento.
Expandido e complexo, o Design apresenta desafios críticos na sua definição, delimitação e mapeamento. Esta porosidade das fronteiras disciplinares, refletida na ontologia do Design, na prática profissional e na investigação científica no âmbito do Design, confere-lhe um brilho especial — uma intensidade sedutora, ainda que problemática.
A seminal definição de Design proposta por Herbert Simon continua a ser relevante: “Fazer design é conceber cursos de ação destinados a transformar situações existentes em situações preferidas.” Implícita no entendimento desta definição está a inferência de que, pela sua própria natureza projetiva, o Design é sempre um processo de investigação, produzindo resultados como coisas, sistemas, serviços, ideias especulativas ou soluções pragmáticas orientadas pela importância do Design como uma práxis socialmente eficaz.
Ursula Le Guin recorda-nos que “o facto científico e a fabulação especulativa precisam um do outro”. Devemos acrescentar que, no caso do Design, o programa e a poética também precisam um do outro. Enquadrada na área científica das Artes e Humanidades pela FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), a investigação no âmbito do Design respira e move-se confortavelmente dentro deste confinamento, ao mesmo tempo que assume o Design como um campo científico autónomo e, paradoxalmente, reconhece os seus rizomas inter e transdisciplinares.
Na base da investigação em Design estão os pilares da ética e da política, e o esforço do Design para ser respeitoso. A sua tradução em KPIs ou indicadores de produção científica pode nem sempre ser direta. No entanto, sermos investigadores gentis e respeitadores, empáticos e com amor pela vida (no sentido da biofilia) tornar-nos-á sempre melhores investigadores e melhores seres humanos.
A investigação científica exige integridade científica, convidando-nos também a abraçar a humildade e a curiosidade como forças orientadoras da investigação. É importante, a cada passo, compreender o Design que o Design desenha. A partir daí, a investigação no âmbito do Design pode navegar em diferentes águas — já que o ambiente de investigação é sempre fluido —, aproximando-se dos cânones e do jargão da investigação para os desmantelar, atraída pela luz do novo ou da inovação, tal como pode revisitar o passado, a história, o património.
O presente é um contínuo, e nele reside uma miríade de possibilidades. A investigação em Design é um ethos precioso para compreender e desvendar essas possibilidades. Talvez este seja ainda apenas o início, mas estar no início das coisas é um bom ponto de partida para as compreender e respeitar.